Há pouco tempo, cruzei-me com a memória de uma frase de GK Chesterton estupenda. Provoca-nos o autor com o fato de que “é justamente quando a esperança deixa de ser razoável que ela se torna útil”. Percebi que exatamente o mesmo poderia ser dito sobre o amor, sobre a força, sobra a amizade, sobre a dedicação, sobre a disciplina. Em todos os casos, inevitavelmente, paira o perfume da resiliência.
O clássico “O Sol é Para Todos” (título original To Kill a Mockingbird) é um livro de Harper Lee publicado em 1960 e considerado um dos grandes da literatura mundial. Nele, a resiliência é personificada por alguns personagens lendários. A obra explora a capacidade de superação. No centro, encontramos Atticus Finch, um advogado que enfrenta o racismo e a injustiça da sociedade sulista dos Estados Unidos durante a Grande Depressão. Atticus representa um modelo de resiliência moral, mantendo sua integridade e valores mesmo quando confrontado com pressões esmagadoras. Ele ensina seus filhos, Scout e Jem, a importância de compreender e empatia, mesmo quando aqueles ao seu redor parecem ser dominados pela ignorância. Atticus se mantém firme em face das adversidades.
Viktor Frankl, sobrevivente do Holocausto e renomado psiquiatra, resumiu com precisão: “Entre o estímulo e a resposta, há um espaço. Nesse espaço está nosso poder de escolher nossa resposta. Em nossa resposta está nosso crescimento e nossa liberdade”. O argumento de Frankl encontra eco nos conceitos discutidos por Steven M. Southwick e Dennis S. Charney em “Resiliência: A Ciência de Superar as Adversidades”. Os autores mostram que a resiliência não é uma característica inata, mas uma habilidade que pode ser desenvolvida. Eles enfatizam a importância das relações sociais, do otimismo e da capacidade de encontrar sentido mesmo nas situações mais difíceis.
Angela Duckworth, em “Grit: O Poder da Paixão e da Perseverança”, explora o conceito de resiliência através da ideia de “grit”, que é uma combinação de paixão e perseverança em busca de objetivos de longo prazo. Duckworth argumenta que o sucesso não depende apenas do talento inato, mas principalmente da capacidade de persistir diante das adversidades. Ela ressalta que a resiliência é uma característica fundamental das pessoas que têm “grit”. Essas pessoas são capazes de se recuperar de fracassos e continuar progredindo em direção aos seus objetivos. Elas mantêm o foco e a determinação.
Uma abordagem curiosa sobre o assunto vem de “A Resiliência em Crianças e Adolescentes”, de Boris Cyrulnik. O autor explora como a resiliência pode ser desenvolvida desde a infância. Ele destaca a capacidade inata das crianças de superar traumas e adversidades. Cyrulnik argumenta que, apesar das experiências em tenra idade, muitos jovens conseguem encontrar maneiras de se adaptar e crescer. Ele enfatiza a importância de um ambiente de apoio e de relações significativas, como aquelas com pais, mentores ou professores, que podem fornecer um porto seguro emocional e ajudar a criança a processar experiências dolorosas de forma construtiva. No contexto de “O Sol é Para Todos”, vemos isso na forma como Scout e Jem aprendem a lidar com a realidade difícil do racismo e da injustiça sob a orientação compassiva de seu pai, Atticus Finch. Essa orientação propicia um espaço onde eles podem discutir abertamente suas experiências e sentimentos, facilitando seu desenvolvimento emocional e resiliência
“O Sol é Para Todos” não é apenas uma história sobre as injustiças do passado, mas um ensinamento atemporal. Curiosamente, as lições que o tempo não toca e os diferentes contextos históricos não mudam, nos mostram que a liberdade a qual todo ser humano realmente busca não está em deixar de usar os grilhões do racismo no sul dos EUA ou na autossuficiência financeira alucinadamente perseguida pela modernidade. Em ambos os casos, esses fatos são meras consequências. A liberdade é o fruto saboroso da genuína resiliência. Aquela que pode ser posta à prova na rotina invisível.
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